A Península de Maraú é uma das regiões mais bonitas da Bahia. E para desfrutar das belezas desse pedacinho de Brasil tão paradisíaco e pouco explorado, foi preciso muita disposição, coragem e a companhia de uma amiga mais aventureira do que eu. Isso porque a região é muito precária para quem precisa de um mínimo de infraestrutura e acessibilidade. Mas, sem dúvidas, viver essa aventura e poder contemplar as belezas naturais da região foi inesquecível e valeu cada esforço.
O primeiro desafio dessa viagem foi a localização: Barra Grande de Camamu situa-se na Península de Maraú, que, por sua vez, está localizada na Costa do Dendê, no Estado da Bahia, 200 km ao sul de Salvador e 150 km ao norte de Ilhéus.

Como chegar
O aeroporto mais próximo é o de Ilhéus (150km) mas também dá para ir pelo de Salvador (200km via Itaparica).
Saindo de Salvador, a melhor opção é pegar o ferry-boat para Bom Despacho, na ilha de Itaparica. Caso o viajante faça esta travessia de carro, poderá seguir pela BA-001 até Camamu. A partir daí duas escolhas são possíveis: contornar a Baía de Camamu continuando pela BA-001 e a BR-030 (estrada de terra) ou deixar o carro num estacionamento em Camamu e pegar um barco para Barra Grande (mais rápido). Neste caso, a cidade conta com alguns estacionamentos próximos ao cais (diária em torno de R$30).
Já para quem vai de Ilhéus, o melhor caminho é pela rodovia BA-001 em direção a Itacaré e Camamu. O cruzamento com a BR-030 (estrada de terra) fica a 19 km depois de Itacaré. A estrada de terra pode se tornar impraticável para carros comuns se houver longos períodos de chuvas, portanto, é recomendável se informar sobre o estado da BR-030 antes de se aventurar por ela.
Em nosso caso, optamos por fazer a travessia sem carro e ao chegarmos em Bom Despacho, compramos passagens de ônibus com destino a Camamu. Várias empresas de ônibus operam de hora em hora entre o terminal do ferry-boat de Bom Despacho e o porto de Camamu. O tempo de viagem é de aproximadamente 5 horas. As empresas Águia Branca e Cidade Sol são as mais indicadas por serem mais rápidas e fazerem o trajeto direto. Há também linhas de ônibus para Camamu saindo de Itacaré, Ilhéus, Itabuna, Feira de Santana e das principais cidades da região.
Apesar da travessia pelo ferry-boat ser relativamente acessível, os ônibus intermunicipais são desconfortáveis e tiram qualquer autonomia de um (a) viajante com deficiência e/ou mobilidade reduzida, pois os banheiros são de difícil acesso e é preciso ser carregada para ter acesso à sua poltrona. Até aí estava tudo lindo, afinal, estávamos de férias e o que queríamos mesmo era aproveitar.
Ao chegar na pacata Camamu, quem opta por não pegar a estrada de terra e deseja seguir viagem através do porto, encontra duas opções de transporte para Barra Grande: barcos comuns e lanchas rápidas. Barcos comuns são mais baratos mas levam uma hora e meia para chegar a Barra Grande, já a travessia de lanchas rápidas dura em média 20 minutos e custa R$20 por pessoa. O horário de funcionamento é das seis da manhã até as cinco da tarde. O local de embarque das lanchas em Camamu fica na Ponte Menor, próximo ao ponto de ônibus.
Meu coração começou a ser testado no momento de pegar a lancha para Barra Grande, pois o píer me trouxe um pouco de insegurança. Mas, nada que um espírito mais aventureiro não leve numa boa.
Após a viagem de lancha rápida, desembarcamos em Barra Grande. Confesso que eu tinha outras expectativas da Península Maraú e tomei um susto ao ver aquela escada sem qualquer segurança, por onde eu deveria passar sendo carregada por algum dos rapazes que prestam serviços recebendo turistas e ajudando com malas. E eu fui carregada como uma maleta de joias que não poderia ser derrubada naquela água fria (risos de nervoso). Um deles me carregou da lancha e outro que estava na escada concluiu o serviço, colocando-me inteirinha na minha cadeira de rodas, fora daquela zona de perigo.

Outra opção para quem quiser mais conforto e não deseja encarar a aventura de ser carregada de uma lancha em um píer com acessibilidade zero é contratar um transfer de Salvador / Ilhéus até Camamu ou, se a estrada estiver boa, o carro até Barra Grande. Os preços variam em torno de R$200/250 por pessoa.
Como se locomover
Ufa! Depois de todo perrengue conseguimos chegar em Barra Grande! Missão cumprida! E agora, como se deslocar dentro da Península?
Como todo bom vilarejo, Barra Grande guarda características fortes de locais pouco explorados. Nada de trechos asfaltados, por todo lado o chão é de areia batida, o que me rendeu alguns solavancos na caminhada até a pousada. Cheguei até a sugerir ao nativo que estava levando as nossas malas no carrinho de mão, que eu também fosse levada no carrinho dele, mas a ideia não colou.
Bem, se o tempo estiver seco, o carro comum poderá te levar a quase todos os lugares. Se for no seu carro próprio, recomendo deixá-lo estacionado na pousada e só sair com ele para ir embora.
Em Barra Grande é comum se deslocar entre as praias através de jardineiras, que são caminhonetes adaptadas com bancos de madeira na carroceria. Elas levam para todas as atrações e tem preços tabelados. Na vila, o ponto fica próximo do cais e as saídas tem horários agendados. Prepare-se apenas para comer um pouco de poeira na estrada. Táxis levam a todos os lugares da península, mas cobram valores salgados.
O meio de transporte mais utilizado em Barra Grande é o quadriciclo. Lá, a população utiliza a motoca para tudo. A diária custa em média R$120 na baixa estação e na alta chega até R$200/250.
Nós ficamos hospedadas no Taipabas Hotel que é agradável e ótimo para relaxar. Para um hóspede com deficiência, recomendo buscar outra pousada, visto que a Taipabas possui vários desníveis e batentes limitando a circulação independente em espaços comuns. Também é interessante a busca por pousadas mais próximas ao centrinho de Barra Grande para aproveitar melhor a noite.
Mas é sempre importante entrar em contato com a pousada para verificar se eles realmente estão preparados para receber o (a) hóspede. Infelizmente muitos hotéis possuem setores de reserva despreparados para fornecer informações precisas sobre a acessibilidade do local.
O que fazer
Para quem já está achando que essa viagem foi uma furada, engana-se. Quem me conhece sabe o quanto eu amo um desafio e assistir o pôr-do-sol de Barra Grande valeu cada desconforto de encarar uma viagem em condições precárias de acessibilidade.
Além de praias lindíssimas, a Península de Maraú possui várias lagoas e ainda é banhada pela Baía de Camamu, que em volume de água é a terceira maior do país, perdendo apenas para Guanabara (RJ) e Todos os Santos (BA). A Praia de Barra Grande é a faixa de areia que segue ao longo da vila e vai até a barra do Rio Carapitangui, onde fica o famoso Bar da Rô.

Barra Grande tem uma vida noturna muito gostosinha, com vários restaurantes charmosos para aproveitar, com opções para todos os gostos e bolsos. É importante lembrar que não há caixa eletrônico para sacar dinheiro, mas grande parte dos locais aceita pagamento em cartão de débito e crédito.
Não poderia faltar a clássica Igrejinha de vilarejo. E, pasmem: ela conta com uma rampa super adequada (só que não!!)

O ponto alto da viagem foi o passeio de barco pelas ilhas que ficam na Baía de Camamu. As ilhas que geralmente estão neste passeio são: Ilha da Pedra Furada, Sapinho e Ilha do Goió. Há paradas em diversos pontos para banho e, é claro que eu não me arriscaria em sair do barco para me jogar naquela água sem qualquer acessibilidade, certo? Errado. =)
Com a ajuda de outros turistas desci para a água feito um peixinho e aproveitei para me conectar àquela natureza deslumbrante. O passeio durou um dia inteiro e foi possível aproveitar bastante as ilhas, incluindo uma parada para almoço. Ao longo do povoado, o mar é bem calmo porque esta parte está virada para dentro da Baía de Camamu.

A Península de Maraú é encantadora e para o turista com algum tipo de deficiência e/ou mobilidade reduzida ao mesmo tempo que traz quase que uma impossibilidade de acesso recompensa com a sua beleza e calmaria.

Desde a primeira vez que te vi, não sei te explicar, mas tive a sensação de estar diante de alguém forte, de bem com a vida e com muita história de momentos de superação, mas acima de tudo de felicidade, até tive essa certeza depois de longos papos com sua linda mãe – você Amandinha, é minha ídola!
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Socorro, quantas palavras inspiradoras! Acredito que só somos capazes de enxergar nos outros aquilo que existe em nós! Forte abraço!!
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