“Aquele que não enxerga, não sabe o que não vê; se ele soubesse o que não vê, de alguma forma já estaria vendo. Já aquele que vê, pensa que tudo que vê é o que é, mas se ele soubesse que nem tudo que ele vê é o que é, de alguma forma já estaria vendo” é um dos trechos mais reflexivos do monólogo “A alma imoral”, obra de Nilton Bonder.
E sobre nós? O que mais conseguimos ver além do que nos mostra o reflexo do espelho? Quem eu seria se apenas soubesse que sou a aparência que causa surpresa em olhares que me veem pela primeira vez?
Dentro desse emaranhado de questionamentos complexos, evidencia-se a compreensão do autoconhecimento como o ponto mais importante no processo pela busca por uma vida mais plena, pois é através deste caminho que podemos estar inteiros no compromisso de pôr luz nas nossas partes obscuras além de valorizar os nossos pontos fortes e colocá-los a serviço do nosso desenvolvimento pessoal, profissional e espiritual.
Quanto mais comprometidos estamos com o nosso autoconhecimento, mais vigilantes e atuantes permanecemos sobre os comportamentos e crenças geradores de sofrimento e estagnação. Aqui, o conceito de crença extrapola o contexto religioso, e diz respeito ao sentimento de certeza sobre o que algo significa. Já as crenças limitantes são fruto de interpretações de experiências dolorosas que generalizamos. Acontece que, na maioria das vezes, a atuação de tais crenças se dá de maneira inconsciente e passamos a ter dificuldade em compreender o porquê estamos obtendo resultados específicos.
Acredito que a história de que o conhecimento é poder, é uma das maiores falácias dos últimos tempos, e o mesmo vale para o autoconhecimento. O autoconhecimento é poder em potencial. Não basta saber que você tem comportamentos que sabotam determinados objetivos, é necessário perceber isso como um problema (distância entre a situação atual e a desejada) para conseguir gelatinizar as crenças que produzem tais comportamentos. O autoconhecimento aplicado é uma ferramenta dinâmica para derrubar as paredes das crenças limitantes. Só então podemos usufruir da verdadeira liberdade que é a de conseguir deliberar em sentido contrário aos desejos. Ou, pelo menos, os desejos que ainda sejam frutos das crenças que você deseja substituir.
Nós habitamos a casa das crenças e só ampliamos as nossas construções quando conseguimos substituir as crenças limitantes, prostradoras e apequenadoras por aquelas fortalecedoras, impulsionadoras e agigantadoras, com todo cuidado para perceber que as nossas crenças se disfarçam de verdades. Com essa transformação que não tem fim, essa viagem sem destino final, vamos substituindo o desejo de descobrir quem somos pela determinação de quem nós queremos ser.
“Não vemos as coisas como são, e sim como nós somos”
