É comum presenciarmos debates sobre os custos envolvidos no processo de adaptações de hotéis, residências e espaços públicos com vistas a garantir a manutenção da independência do indivíduo. Mas, pouco ouvimos falar sobre quais são os custos de não fomentar a diversidade através da eliminação de barreiras arquitetônicas.Sob a ótica do turismo, quando pensamos em acessibilidade, devemos considerar o atrativo turístico em si bem como a rede de hospedagem e alimentação, o sistema de transporte, o mobiliário urbano e banheiros públicos, espaços de lazer, e até mesmo o atendimento adequado proporcionado aos turistas. Ainda assim, o que o senso comum prega é que adaptar é caro e a demanda é pouca.
Entretanto, quando consultamos o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feito em parceria com o Ministério da Saúde, verificamos que 6,2% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) considerou quatro tipos de deficiências: auditiva, visual, física e intelectual. Ou seja, são cerca de 45 milhões de Pessoas com Deficiência (PCDs) que consomem e são influenciadores de consumo e que ainda não são atendidos plenamente em suas necessidades. Em complemento, deve-se considerar que existem um bilhão de pessoas com deficiência no mundo. Diante disto, repetimos a pergunta tema desta publicação: “Acessibilidade: custa mais caro ter ou não ter?”.
O primeiro ponto de reflexão para a questão é que a acessibilidade não é assegurada exclusivamente por grandes e dispendiosas obras. Eu já estive hospedada em hotéis onde meu deslocamento seria muito mais fácil se a disposição dos móveis estivesse de outra maneira, por exemplo. Da mesma forma, já me hospedei em um hotel que contava com um batente alto para acessar a área da piscina. Também não resolve muito ter um elevador e os seus botões estarem localizados em alturas inacessíveis. São formas de ilustrar que a acessibilidade depende muito mais de visão estratégica e um pouco de boa vontade do que de altos investimentos.
Se o empresário realmente estiver disposto a aumentar a sua taxa média de ocupação anual através da disputa uma maior fatia do mercado, deve encarar a questão da acessibilidade como investimento e não como custo ou mero cumprimento de legislação. Em complemento, é importante notar que a NBR 9050 de 2015 não estipula percentuais de unidades a serem adaptadas porque já incorporou os princípios do desenho universal, cuja definição é adotar projetos que atendam todas as pessoas, sem distinção, em todas as Unidades Habitacionais. Ou seja, essa perspectiva desconstrói a ideia de que para os ambientes serem, eles precisam ser, necessariamente, amplos. Com a aplicação adequada de conhecimentos técnicos, é possível garantir que apartamentos com 16 m² possam reunir funcionalidade, design e beleza, independente se o espaço vá receber pessoas com ou sem deficiência.
Dentre os itens considerados essenciais para um apartamento acessível, estão: equipamentos de transferência da cadeira de rodas para o vaso sanitário e para a ducha; espelho inclinado; cadeira de banho; barras de apoio bem posicionadas e firmes, alarmes de emergência; vaso sanitário com a altura da cadeira de rodas; pisos antiderrapantes; mobiliário sem cantos vivos; espaço para giro de cadeira de rodas; acesso a varandas; móveis em alturas adequadas; roupeiros retráteis; carpetes que não exijam esforço demasiado de um cadeirante; placas em braile; rampas; corrimãos, entre outros.
Infelizmente, o que acontece na prática é que os apartamentos são adaptados como se fossem UTIs de hospitais e, muitas vezes, sem atender à legislação e normas existentes. Resultado: o hóspede sem deficiência se sente constrangido em usar a UH, o apartamento tem uma queda em seu uso, comparando-se com as outras unidades e a Administração do hotel não se motiva a fazer as adaptações necessárias, reforçando o paradigma de que a acessibilidade é difícil, cara e não traz retorno econômico.
O hoteleiro que consegue ter uma visão estratégica e criar uma vantagem competitiva com relação aos seus concorrentes, além de atender o cliente com deficiência, consegue atender bem aos hóspedes na 3ª idade, os obesos, gestantes ou pessoas com mobilidade reduzida temporária. E aí, vai ficar de fora dessa?


