Cadeira de rodas: prisão ou liberdade?

No último dia 14 de março, morreu o físico Stephen Hawking. Para alguns, um gênio paralisado. Para outros, um aventureiro que, mesmo com graves limitações físicas, conheceu todos os continentes, com exceção da Oceania, andou de submarino, voou em um balão e, até mesmo, em um avião que fez uma série de manobras para produzir uma situação de gravidade zero.

Mesmo lidando com uma doença degenerativa, Stephen foi reconhecido pela genialidade e bom-humor. Segundo ele, “Minhas expectativas se reduziram a zero quando tinha 21 anos. O restante foi um presente”, fazendo referência ao momento em que foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e ter recebido uma perspectiva de vida de apenas 3 anos. Por causa da ELA, Hawking só conseguia mover um dedo e os olhos voluntariamente, sendo dependente de um sistema de voz computadorizado para se comunicar com as pessoas e, ainda assim, escreveu 14 livros além de ter recebido diversos prêmios e medalhas pelas contribuições das suas pesquisas, sobretudo nas áreas de cosmologia teórica e gravidade quântica.

Em busca rápida na internet, é fácil perceber que a mídia constantemente fazia referência ao físico como alguém aprisionado, assim como caracteriza outras pessoas com deficiência, sobretudo aquelas que fazem uso de órteses. Quem nunca leu algo do tipo: “o acidente deixou fulana presa a uma cadeira de rodas”? E se engana quem pensa que se trata apenas de mero uso das palavras. Essas frases prontas vêm carregadas de pré-conceitos que se perpetuam na sociedade, reforçando o estereótipo de pessoas limitadas, necessariamente sofredoras e incapazes de viverem a vida plenamente. Em meus 30 anos de vida, já me deparei com muitas situações inusitadas de pessoas que não sabiam bem como lidar com a minha deficiência e/ou com suas consequências. Algumas vezes, a surpresa que a minha aparência causa é logo substituída por um olhar de pesar. Como se os olhos do outro me dissessem: “sinto muito”. Quase sempre, retribuo com um sorriso de canto de boca acompanhado de um pensamento quase instantâneo de: não lamente por mim, mas por sua perspectiva.

Diante das minhas limitações físicas, longe de me aprisionar, a cadeira de rodas me liberta. Passa a ser uma extensão do meu corpo, um instrumento que me possibilita viver, conduzir meus projetos. É através dela que eu posso decidir ser quem eu desejo, enquanto tantos outros, com pés ditos perfeitos, permanecem aprisionados nas próprias crenças. Nas crenças que só conseguem alcançar o aparentemente óbvio. Pior, aqueles que estão presos em ilusões, fantasias e fixações. Presos, julgam-se livres e creem que a prisão sempre está no outro. O movimento supera a sua conotação física e abarca uma perspectiva mental e espiritual. Assim, surge o real sentido de “quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem”, dita por Rosa Luxemburgo.

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Descrição da imagem para cego ver: Amanda está de pé, descalça em um chão de terra e seus pés estão entre as rodas da cadeira de rodas.

Publicado por por Amanda Brito

Administradora e Especialista em Gestão Empresarial e em Educação, atua há mais de dez anos conduzindo processos de Gestão Estratégica de Pessoas, Gestão de Carreira e Desenvolvimento Humano, além de já ter coordenado grupos de trabalho sobre Equidade em ambientes corporativos. Apaixonada por transformação de pessoas, possui formação em Coaching Executivo e Life Coaching, em curso credenciado pelo ICF, e em Practitioner em PNL. Também ministra palestras e tem experiência facilitando processos em Grupos. Baiana radicada no Rio, e viajante nas horas vagas, seus pés não sabem andar nem ficar quietos.

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