Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 6,2% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. Isso significa que há 45 milhões de Pessoas com Deficiência (PCDs) somente no Brasil, número próximo à população da Inglaterra (53 milhões, aproximadamente). Até pouco tempo atrás, essas pessoas estavam em completo estado de invisibilidade na sociedade. Além de serem usurpadas dos seus direitos enquanto cidadãs, eram postas em verdadeiro cárcere induzido, quer seja pela necessidade e ausência de um acompanhante quer seja pela dificuldade em transpor as barreiras físicas das ruas, em calçadas, escadarias e até mesmo na dificuldade em encontrar transporte acessível. É certo que à medida que o ciclo da inclusão substitui o ciclo da invisibilidade, essa situação se altera e cada vez mais é possível ver as pessoas com deficiência verdadeiramente inseridas na sociedade.
Assim, é cada vez mais comum você encontrar pessoas com deficiências nas escolas, universidades, shows, shopping e no ambiente trabalho. E qual a chance você se dá de ampliar seu mundo, suas crenças e paradigmas ao se relacionar com pessoas que, aparentemente, são tão diferentes de você?
O desafio de receber um amigo com deficiência em “casa” é muito mais do que uma provocação para a reflexão sobre os espaços físicos pelos quais você transita. É mais do que pensar na disposição dos seus móveis. É uma metáfora que incentiva o questionamento sobre as próprias crenças. Sobre o quanto estamos abertos para trazer para nossas vidas aquela pessoa que pode nos causar um desconforto inicial, fruto de não sabermos lidar com uma situação nova.
Um dos filmes mais bacanas que já assisti foi o “Intocáveis”, francês e baseado em fatos reais, ele retrata o valor da amizade através da história de Phillippe, um milionário que ficou tetraplégico após um acidente, e o seu cuidador. Os personagens se tocam nos detalhes e dramas da vida, sendo aí que reside a beleza do filme. O enredo do filme é recheado com essas provocações sobre a predisposição das pessoas em estabelecer (e manter) relacionamentos com pessoas com experiências, necessidades e estilos de vida diferentes do nosso. E sem querer desmerecer a importância de espaço físico adaptado para receber um amigo com deficiência, o desafio maior está em mudar o que está dentro de nós.
Certamente o nosso aprendizado é muito maior quando substituímos a escolha de sempre nos relacionarmos e falarmos com as mesmas pessoas sobre os mesmos assuntos por estarmos abertos e vulneráveis ao mundo daqueles com necessidades, pontos de vista e histórias de vidas diferentes dos nossos. Mudar nosso status quo exige desejo, compromisso e desconstrução. É se dar a chance de perceber que a mudança para uma sociedade mais justa e equânime é tão complexa que parte da luta é apenas fazer parte da luta, ainda que seja só com empatia pelo outro.
“Passe dos limites da sua casa, da sua turma
Se comunique sem nenhum tipo de rótulo
Supere seus limites
Não se conforme com a informação
Busque, atreva, ultrapasse os muros impostos”