Se a possibilidade de escolher não casar foi uma das principais conquistas das mulheres contemporâneas, posso afirmar, sem hesitar, que casar também foi uma quebra de paradigmas para uma mulher com deficiência , como eu. Uma quebra que envolve não apenas a minha coragem, mas a escolha decidida do meu noivo de não retroceder diante da resistência e estranheza de muitas pessoas sobre o nosso relacionamento.
Já tive algumas oportunidades de dizer que casar na igreja, usando branco e com toda a pompa de um casamento tradicional nunca esteve em minha bucket list. Porém, dois fatores foram decisivos para me fazer mudar de opinião. O primeiro, e mais importante, é que a celebração passa a ser secundária quando você encontra alguém que realmente contribui para você se tornar a melhor versão de si mesma.
O segundo ponto foi que planejar um casamento acessível é um grande desafio. Muito além das barreiras físicas, essa decisão envolve uma profunda quebra de paradigmas. É um desafio que perpassa por fornecedores que não estão preparados para atenderem noivas com deficiência, pela dificuldade em desenhar um vestido que seja ideal para você, por perceber que a procura de vídeos de uma valsa com um par cadeirante ainda vai resultar em poucos exemplos disponíveis para se inspirar.
Ao longo desse um ano planejando o nosso casamento, tive contato com diversas mulheres que se sentiram inspiradas pela possibilidade de estabelecerem relacionamentos amorosos saudáveis e engrandecedores. Isso também é representatividade porque nossos amores se desenrolam diante de um pano de fundo cultural que cria uma noção poderosa do que é “normal” no amor; ele sutilmente nos guia para quais corpos devem ser objetos da nossa atração, por quais padrões devemos nos interessar, onde devemos dar nossas ênfases emocionais, ensina o que valorizar, como abordar conflitos, com que nos empolgarmos, quando tolerar e o que legitimamente pode nos irritar. O amor tem uma história e navegamos – às vezes um tanto impotentemente – em suas correntes.
Por isso, romper com os grilhões de uma sociedade excludente, que ainda confisca o direito de uma mulher com deficiência de amar e ser amada, é uma realização que mostra que podemos ser exatamente tudo aquilo que queremos ser!