Lembro do dia em que saí da concessionária com meu primeiro carro. Estava em êxtase, envolvida por uma mistura de medo e excitação. Acompanhada por um grande amigo, fui dirigindo à caminho da minha casa, quando outro motorista invadiu uma das faixas e acabou colidindo levemente na lateral do meu carro (zero!!). Havia acabado de receber minha CNH provisória e, obviamente, fiquei muito assustada com aquele incidente. Como você se sentiria nessa situação? Frustrada? Com raiva? Chateada? Impotente?
Não importa o nome que nós damos aos sentimentos, o fato é que a grande maioria das pessoas sentem-se mal. Diante desta situação ou de outra igualmente frustrante, somos assaltados por reações emocionais negativas porque agravamos a eles um significado de perda. Assim, a emoção e a reação se tornam previsíveis é igualmente desagradáveis. Ligamos o piloto automático e atendemos à uma “obrigação inquestionável” de reagir dessa maneira sempre que tais estímulos do mundo exterior ocorrem, como se estivemos presos, impotentes dentro de uma relação matemática e indestrutível de causa e efeito. O sentimento desconfortável não é uma resposta ao acontecimento em si, mas ao significado que damos a ele.
Entretanto, quem nunca ouvi alguém dizer, ou já disse, que quer ser mais paciente? Dentro desta reflexão, percebemos quantas oportunidades maravilhosas a vida nos proporciona de aprendermos a agir de maneira mais compreensiva. Acontece que este exercício não ocorre quando estamos tranquilos e confortáveis lendo este texto, mas sim, quando estamos imersos em situações similares à batida em nosso carro novo. Aproveitamos esses eventos para fazer a nossa transformação pessoal apenas quando deixamos de associar a situação ao sentimento de perda para escolher novos e melhores significados para tais acontecimentos.
Os significados e as ressignificações
Um dos pioneiros do estudo científico e terapêutico sobre o significado da vida do ser humano foi o psiquiatra, e judeu austríaco, Victor Frankl, que construiu suas principais lições quando estava confinado no campo de concentração de Auschwitz. Segundo ele, mesmo quando somos despojados de tudo o que possuímos, ninguém tem o poder de nos tirar a liberdade de decidir como vamos encarar e reagir porque a liberdade não é algo que possuímos, mas algo que somos.
Considerando que o significado de todo acontecimento depende do filtro através do qual o percebemos, a ressignificação acontece, justamente, quando mudamos esse filtro mental, alterando as reações emocionais e comportamentos. Significados inferiores geram pensamentos inferiores. Significados superiores geram pensamentos superiores.
A habilidade de escolher as nossas respostas (respons – abilidade) é a base do autoconhecimento. Os proativos conhecem as próprias tendências, as programações que existem em suas mentes. Assim, é possível reprogramar e escolher programações melhores e eficazes. Em suma, esse poder de escolha é acessado através das estratégias de ressignificação.
A ressignificação pode acontecer de três formas: a primeira é quando alteramos o significado que agregamos ao acontecimento. Nesta opção, oferecemos outras opções de significado para o fato, o que pode ser utilizada para alterar perspetivas em situações de causa e efeito e de equivalência complexa. Uma vez de posse do significado, pergunte a si mesmo: que outro significado mais útil posso atribuir ao fato?
Outra modalidade de ressignificação é a de contexto. Aqui, partimos do pressuposto que todo comportamento é útil e apropriado em determinado contexto, segundo determinado referencial. Em significados inferiores do contexto, concentra-se tanto na inadequação generalizada que esquece que pode haver situações ou contextos em que aquele fato ou comportamento inadequado na situação X é útil e adequado.
Por fim, a ressignificação de palavras substitui aquelas de conotações negativas por sinônimas de sentido mais positivo.
Ressignificar não significa enganar as pessoas ou a si mesmo, mas criar um espaço confortável para manobrar situações desagradáveis. É um processo que fornece opções positivas para que a mente das pessoas possa escolher melhor suas reações.
“O universo é neutro e nós temos o poder de fazer dele um inferno ou um paraíso”