“Acreditar em si é contagiante”
Essa foi uma das frases mais marcantes do filme “Vidro”, último da trilogia de “Corpo fechado” e “Fragmentado”. Em todas as três obras, Samuel L. Jackson interpreta o genial Elijah, super-herói que se destaca de todos os outros por sua capacidade intelectual. Considerando as dificuldades que o personagem enfrenta desde a sua infância, frutos de uma patologia congênita que fragiliza seus ossos e que acarreta uma série de fraturas ao longo da vida, ele é confrontado a desenvolver habilidades cognitivas que acabam se transformando em super poderes.
É uma excelente oportunidade para refletirmos como temos lidado com os processos de desenvolvimento e aprendizagem das nossas crianças, independentemente se elas tenham alguma necessidade especial ou não. Muitos de nós acreditam, por exemplo, que elas precisam interagir excessivamente com a tecnologia para desenvolver competências que atendam à profunda transformação digital pela qual estamos atravessando. Mas, será que os fatos em que estamos baseando as nossas crenças estão certos? Para discutirmos esse ponto, é fundamental trazer para o debate o fato que, para além das habilidades técnicas, o alcance de resultados de alta performance depende, fundamentalmente, do desenvolvimento das competências comportamentais.
E tal desenvolvimento só acontece a partir de relações humanas, o que requer o estabelecimento de vínculos afetivos e conquistas de confiança. Este tipo de relação precisa ser uma prática contínua para a criança. Isso não significa que elas não devam aproveitar os benefícios tecnológicos para desenvolver habilidades que estes recursos proporcionam. Entrar em estado de flow (ou de atenção total) ao jogar videogames ajuda no desenvolvimento de algumas habilidades motoras e cognitivas e isto não precisa ser deixado de lado. Mas não podemos esquecer que as relações humanas também precisam ser treinadas e desenvolvidas e é nestas relações que o indivíduo aprende conteúdos que só a ativação dos neurônios-espelho que o espelhamento e a imitação proporcionam.
Ainda no filme, o nosso querido super-herói afirma que uma pessoa sem deficiência, não sabe como é ser tão diferente que você não sabe onde se encaixa. Ele esqueceu de dizer que a busca pelo nosso lugar no mundo é um processo pelo qual todos nós, em algum momento de nossas vidas, passamos. Provavelmente ver outras pessoas nos olhando com expressões de curiosidade e pontos de interrogação enormes em cima das suas cabeças decorrente da nossa condição física pode impactar a busca por algumas respostas.
Desenvolver competências comportamentais em nossas crianças é fornecer instrumentos para que descubram que nós nos damos o poder de sermos quem quisermos. Quando essa ficha cai, é o momento que descobrimos a verdade do Universo.