Por Rayane Brasil
Para os viajantes que estão em busca de altas temperaturas durante o verão europeu, Barcelona é uma das muitas opções bacanas. Mas, antes de desembarcar na segunda cidade mais populosa da Espanha, vale a pena dar uma passada por Lisboa e conhecer alguns dos seus famosos pontos turísticos, incluindo uma visita ao Santuário de Fátima.
Lisboa x Fátima
A viagem de carro até a cidade de Fátima, onde fica o Santuário, dura em torno de uma hora.
Lá ficamos hospedados no Consolata Hotel, o qual eu super recomendo. O hotel conta com estacionamento gratuito, fica bem próximo ao Santuário e os quartos adaptados para pessoas com deficiência foram bem projetados, embora ainda apresentem alguns pontos de melhoria. Um deles é que, apesar de ser espaçoso, não foi possível contornar a cama toda com a cadeira de rodas. Além disso, o banheiro é igualmente grande, mas avalio que a cadeira de banho que o hotel disponibiliza não é adequada, pois não permite a auto-propulsão. Vale destaque para os funcionários que foram muito atenciosos e fizeram tudo para nos sentirmos em casa.
Nas dependências do hotel há um excelente restaurante, onde almoçamos. Consumindo o prato do dia, que tivemos a sorte de ser o famoso bacalhau português, a refeição sai por 14 € por pessoa incluindo entrada e sobremesa. O café da manhã também foi maravilhoso. O mais legal é que eles apoiam as atividades de desenvolvimento humano e evangelização que os missionários católicos promovem pelo mundo afora.
A visita ao Santuário foi revigorante. Sente-se que aquele é um lugar de paz, até mesmo se você não for católico. O local também é bem acessível, embora eu tenha sentido dificuldade em subir a rampa de acesso para cadeirantes que é muito íngreme. Dentro do Santuário, visitamos a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a Cruz Alta e rezamos um terço na Capelinha das Aparições.
No dia seguinte partimos para Lisboa mais tarde do que esperávamos e não houve tempo de ver nada mais que a Torre de Belém. Deixamos o carro em um estacionamento próximo (e gratuito) e andamos cerca de 500 metros até a Torre. Nesse curto trajeto, pude experimentar o que é andar de cadeira de rodas pelas pedras portuguesas das calçadas e lhes digo que não foi uma experiência muito agradável. Prepare-se para ser chacoalhado(a) e levar alguns sustos no terreno acidentado. Sem falar que não havia rebaixamento na calçada para atravessar um sinal de trânsito no trajeto.
Não posso afirmar que essa situação se repete por vários pontos da cidade porque não tive a oportunidade de conhecer, mas esse foi um péssimo cartão de visitas para mim. Para não dizer que foi de todo ruim, encontrei um banheiro adaptado no Museu do Combatente que fica ao lado da Torre (para utilizar paga-se 0,5 €).
Da Torre fomos direto para o aeroporto e viajamos pela TAP em um voo que dura menos que uma hora. O embarque dessa vez foi realizado por finger e a aeronave tinha uma aisle chair para me levar até o meu assento.
Barcelona
Chegamos à Barcelona na noite da véspera de San Juan, o nosso conhecido São João. Por toda cidade há pessoas soltando fogos de artifício em suas festas particulares. Os turistas costumam se concentrar na praia da Barceloneta, a mais badalada da cidade, para ver os fogos de artifício e vários shows de artistas independentes. Os “chiringuitos”, como são conhecidos os bares que ficam a beira da praia, ficam abertos até mais tarde nesse dia.
Ficamos em um apartamento em San Adriá de Bésos, uma cidade satélite de Barcelona, no máximo 20 min do centro da cidade. Alugamos um apartamento de 3 quartos com 1 suíte para nosso grupo de 6 pessoas. O apartamento não era especialmente adaptado para cadeirantes, mas é possível se virar bem no banheiro com ducha, utilizando uma cadeira normal que coube no box para tomar banho. O apartamento é uma cobertura com vista para o mar.
Das atrações turísticas de Barcelona, a principal é a igreja da Sagrada Família. A obra projetada por Gaudí no século XIX até hoje permanece inacabada e não se estima sua conclusão para antes de 2026, ano do centenário da morte de Gaudí. A primeira dificuldade que se encontra na Sagrada Família é o acesso: a entrada para cadeirantes é diferente da principal e a sinalização não facilita encontrá-la, restando como última opção perguntar aos funcionários que também não davam uma informação precisa. Para que você não tenha que passa por isso, adianto que a entrada acessível está indicada na imagem abaixo retirada do Google Maps. Pessoas com deficiência não pagam ingresso, nem seu acompanhante. Eu, cadeirante, não tive que comprovar, mas talvez uma pessoa que tenha uma deficiência menos visível tenha mais dificuldade. Mesmo sem pagar ingresso é preciso recolher um ticket na bilheteria para entrada. Caso necessite de um ingresso regular, compre com antecedência ou chegue cedo, pois eles acabam rapidamente.
No interior da igreja, é possível perceber que o nível térreo é plano e de fácil circulação. Entretanto, cadeirantes não podem acessar as torres. A subida é feita por um elevador (que me informaram ser estreito), só que o caminho até o elevador tem alguns degraus. Porém, a descida é feita por uma escada enorme. Não souberam me explicar porque o elevador que sobe com os turistas não pode descer com os mesmos. No mínimo curioso, não é mesmo? A igreja também conta com sanitários adaptados, mas não cheguei a conferir a sua localização.
Outro local que não se pode deixar de visitar é o Barrio Gótico. De arquitetura característica, você se sente transportado para outra época. Deixe-se perder pelos becos onde há pequenas lojinhas e barezinhos. Dentre os prédios baixos do bairro, uma construção se destaca: a Catedral de Barcelona. Vale a pena a visita para conferir o interior da igreja de arquitetura única. O acesso para cadeirantes fica logo ao lado e a entrada é gratuita.
Aproveite e siga pelas Ramblas até a Plaça da Catalunya. Se precisar de uma parada para descansar e fazer uma refeição, o El Corte Inglés é a minha sugestão. O prédio que fica na Praça da Catalunha é, na verdade, uma loja de departamentos onde se encontra de tudo: vestuário, acessórios, farmácia, perfumaria, brinquedos e até supermercado. Mas, o que atraiu não foram as compras (devo acrescentar que não achei os preços muito atraentes), e sim o restaurante no topo do edifício. De lá é possível fazer sua refeição desfrutando de uma vista deslumbrante de Barcelona, se você tiver sorte de conseguir uma mesa perto das janelas. Os preços das refeições também são acessíveis, embora não me recordo mais quanto paguei, mas pelo que considerei a melhor paella de Barcelona, pagaria até um pouco mais porque realmente valeu a pena.
Para os amantes do futebol, a visita ao Camp Nou, estádio do Futbol Club Barcelona é indispensável. Infelizmente não havia partidas acontecendo durante o tempo que estive em Barcelona, portanto só pude ver mesmo o museu. O acesso ao Camp Nou para pessoas com deficiência não é dos melhores, sendo acessível apenas o museu com troféus e outros objetos da história do clube e um local com uma “vista panorâmica” (da minha altura não deu pra ver quase nada). E mesmo com essa falha, você ainda tem que pagar 23 € pelo ingresso. Só vale a pena se você for muito fã do Barça!
Barcelona é uma cidade de muitos parques, dentre os quais, escolhi para conhecer o Parque de la Ciutadella, o mais plano entre eles. Comece o passeio pelo Arco do Triunfo e siga em direção ao parque. Cheio de verde, é um ótimo local para um piquenique ou apenas para sentar na grama e ler um livro numa tarde de sol. O parque tem um banheiro adaptado perto do Quiosque-Bar Ciutadella (não era dos melhores e já estava bem sujo no fim do dia, mas dá pra utilizar). O Zoológico de Barcelona também fica no parque, mas não cheguei a visitá-lo.
De todos os lugares que visitei em Barcelona, de longe, o que mais gostei foi a praia da Barceloneta. Andar pelo calçadão num final de tarde e ver o pôr do sol é um passeio agradabilíssimo (só não se assuste se avistar alguém completamente pelado na praia, lá é permitido). A praia é limpa e muito acessível. Tablados de madeira tornam possível chegar até bem perto do mar. Inclusive para os corajosos de enfrentar a água gelada, é possível alugar uma cadeira anfíbia sem custo nenhum. Esse e outros serviços como o banho assistido e chuveiro adaptado são oferecidos pela prefeitura em datas e horários específicos.
O que eu mais me encantei foi que a acessibilidade lá foi pensada para ser algo normal e rotineira, para que a pessoa com deficiência se sinta o mais independente possível e integrada aos demais banhistas. Também encontrei diversos banheiros adaptados (em ótimas condições) ao longo da calçada, eles normalmente ficam fechados e é preciso solicitar a chave no barzinho mais próximo. Vale a pena percorrer o calçadão todo até o mirante do Hotel W acessível por rampa e elevador. É acessibilidade para todos os gostos!
Não é possível visitar Barcelona sem passar pelo Passeig de Gràcia, uma avenida com prédios suntuosos, lojas de marca e restaurantes conceituados. Pode ser comparada à Champs-Élysées de Paris. Lá estão também as famosas Casa Batló e Casa Milá, ambas projetadas pelo mais famoso arquiteto catalão, Antoni Gaudi. Além de apreciar a parte externa, é possível visitar ambos edifícios, embora eu não tive tempo de o fazer pois já estava com tempo corrido para o voo de volta pra casa.
Agora que já dei um panorama das atrações, umas últimas dicas e/ou curiosidades são interessantes de se compartilhar:
1) Cuidado com os batedores de carteira! Não precisa andar medroso, mas não ande desatento.
2) A culinária catalã é deliciosa. Não deixe de provar a famosa paella (uma espécie de moqueca com diversos frutos do mar cozinhados com um arroz específico) e beber uma cava (champagne espanhol), que às vezes sai mais barato que refrigerante.
3) Em Barcelona se fala catalão, e não espanhol, e a diferença entre as línguas é enorme. O catalão é uma mistura entre o espanhol e o francês (a região da Catalunha faz fronteira com a França). Os barcelonenses te entendem se você falar espanhol ou até inglês em alguns casos, mas sempre tem alguns que criam maior dificuldade.
4) Não tive oportunidade de testar a acessibilidade do transporte público de Barcelona, embora obtive informações de que todos os ônibus são adaptados com rampa e que boa parte das estações de metrô são acessíveis (um mapa com as estações que são acessíveis e as que não são pode ser encontrado nesse link: https://www.mapametrobarcelona.com/mapas-metro/mapa-metro-barcelona-accesibilidad-2018-01.png)
A volta para casa seria feita, como a ida, através de Lisboa, também pela TAP. Mas, depois de todas as bagagens despachadas e de já termos passado pelo controle de segurança vimos no display que nosso voo tinha sido cancelado. A confusão foi grande, tivemos que ficar em Barcelona mais uma noite (a TAP cobriu os custos com hospedagem, translado aeroporto-hotel/hotel-aeroporto e ticket refeição). No dia seguinte também foi difícil conseguir embarcar, pois a TAP nos transferiu para outra companhia, a Swiss Air e de Barcelona embarcamos para Zurich e de Zurich para São Paulo em um voo de 11 horas bastante cansativo. Apesar disso, fiquei feliz por voar com a delegação de atletismo paralímpico do Brasil que voltava de competições com medalha de ouro!
Viajar é sempre bom, mas, voltar para casa…